Elevazione: integração da arte com a natureza

Sílvia Sobral Costa

Professora do Magistério Superior - Universidade Federal de Jataí

João Bosco Ferreira Brandão

Professor do Magistério Superior - Cesut


A relação entre natureza e arte sempre foi muito próxima. As esculturas eram moldadas a partir de diferentes argilas e esculpidas em marfim/ossos, madeira e rochas. Os pigmentos tinham origem mineral, vegetal ou animal, muitas vezes sendo uma mistura de mais de um elemento e eram usados sobre paredes de cavernas, abrigos e posteriormente peles de animais e têxteis de fibras naturais. 

As primeiras formas de arte foram representações da natureza. Com o passar do tempo e a evolução de técnicas e materiais, além dos animais e das pessoas, as paisagens, as marinas, parques, jardins foram constantemente representados. A ciência também influenciou as expressões artísticas, inicialmente através de estudos anatômicos, tão importantes na representação de figuras humanas.



Alguns artistas contemporâneos levam isso a um novo patamar, incorporando organismos vivos às obras de arte. O produto desta fusão arte/natureza/ciência é chamado bioarte. Este termo é usado principalmente “em referência às obras que cruzam a arte com a biologia e biotecnologia”.  Embora em sua maior vertente seja dedicada ao uso de “metodologias, equipamentos ou conceitos científicos não só como ferramentas no processo de criação artística, mas também como formas de expressão,”  o termo em si apresenta um sentido de integração vida e arte, ou seja a arte se utilizando de organismos vivos ou de processos que os envolvem (biotecnologia). 

Os principais desafios encontrados estão voltados a questões éticas, a resistência do público a grandes inovações e a musealização das obras. Como conservar e expor obras que são vivas e em constante modificação? Mas, a arte se recusa a ser padronizada, “Mais do que qualquer outra forma cultural, [...] põe em jogo o plano do simbólico, aproximando realidades aparentemente díspares, movendo fronteiras, superando os limites da percepção comum. Lugar de invenção de novos mundos [...] é também um lugar de permanente reinvenção de si mesma”.   

Um exemplo deste tipo de obra é Elevazione (2000-01), do italiano Giuseppe Penone, exibida no Instituto Inhotim. Ele “é considerado um dos principais nomes da arte povera. O movimento italiano, datado da segunda metade dos anos 1960, tinha como interesse alguns princípios que até hoje norteiam a produção do artista: a ideia de trabalho como processo e o uso de materiais e elementos não convencionais no campo da arte.”  

A obra é composta por uma escultura em bronze central no formato de tronco, suspenso por estruturas de metal, ladeada por cinco árvores de guaritás (Astronium graveolens). Por ser formada por organismos vivos está em constante modificação. Esta é a intenção do artista. A integração da escultura com as árvores ocorrerá com o passar do tempo. As estruturas de metal serão incorporadas pelos troncos das árvores e desaparecerão e a escultura, que é formada apenas por um tronco se integrará aos guaritás que juntarão suas copas.

A peça de bronze, idealizada e moldada por mãos humanas, e a beleza das árvores com suas estruturas definidas pela interação genótipo/ambiente compõe a obra. Cabe a nós, visitantes com nossa complexa conexão entre cultura e experiências próprias fruirmos e darmos a ela significado, ou não, apenas apreciarmos a beleza criada por mãos humanas e integrada às árvores e a um lindo jardim aproveitando o momento...